Peruíbe tem uma rica cultura.
A Aldeia dos Índios Peroibe, já existia desde muito antes da chegada de Martin Afonso de Souza. Seu principal Cacique era conhecido por Piriri Goa Ob Yg e a Aldeia situava-se no Tapiarama (Tapui-Rama), região das Aldeias ou Pátria dos Tapuias. Eram as duas únicas Aldeias do Litoral. As primeiras noticias, datam de 1532, quando Pero Correa pede a confirmação de suas terras a Martin Afonso de Souza, dizendo já estar há muito tempo nas terras que antes pertenciam a um Mestre Cosme, Bacharel de Cananeia e doava estas terras em 1553 à Companhia de Jesus, por descarrego de consciência, devido ao escravismo atuante nas praias do Guarau. Doou, também, a Fazenda na Praia de Peruibe, para a Confraria do Menino Jesus, que passou a ser o Segundo Colégio de Meninos Órfãos do Menino Jesus. O Primeiro Colégio foi em São Vicente. Peruibe pertencia à Capitania de Martin Afonso de Souza, por encontrar-se a 12 léguas ao Sul de São Vicente.
Já existe, neste local a Capela dedicada à Conceição de Nossa Senhora, quando em 1549, chegava Padre Leonardo Nunes juntamente com outros padres para fazer a catequese dos indígenas. O Padre Leonardo Nunes passou a ser conhecido pelos indígenas por "Abarebebe" (Padre Santo ou Padre Voador) por estar em vários locais ao mesmo tempo. Em 1554, chega na Aldeia José de Anchieta, noviço de 19 anos, recentemente aceito na Companhia de Jesus, no auxílio à catequese. Após ter feito seu trabalho na Capitania de São Vicente, foi à Bahia como provincial e em 1584, escrevia:
Tendo notícias que o Convento de Itanhaém só começou sua construção em 1640, e seu padroeiro foi São Francisco de Assis, conforme apontamento de Azevedo Marques e sua Igreja Matriz, data de 1761 e sua Padroeira de Santa Ana, conforme Benedito Calixto, não resta duvida sobre a veracidade dos fatos históricos de que a fundação da Vila da Conceição de Nossa Senhora, ocorreu na atual Ruínas do Abarebebe, conforme a afirmação de Frei Gaspar da Companhia de Madre de Deus, que diz na sua obra (Capitania de São Vicente), que até 1555, não existia nada no local chamado Itanhaém e sim Aldeias, onde Martin Afonso de Souza fez sua fundação. A Aldeia perdeu o Foro de Vila, cedendo aos Portugueses que residiam em Itanhaém, por estarem os Jesuítas protegendo por demais os indígenas e no século XVII, em meados de 1648 foram expulsos. A Aldeia passa a ser conhecida como Aldeia de São João Batista, a partir de 1640.
A Aldeia ficou abandonada, os indígenas foram obrigados a levar as Alfaias, Castiçais e Imagens para o Convento de Itanhaém, mas devido a devoção pela Imagem da Conceição de Nossa Senhora, esconderam e só a entregaram à Confraria de São Vicente. Outras histórias foram narradas por diversos historiadores, sempre com o intuito de apagar da memória os fatos verdadeiramente ocorridos. Itanhaém passou a cabeça de Capitania por quase 150 anos, devido ao progresso de Piratininga (São Paulo), despovoando quase totalmente o litoral inclusive a velha capitania de São Vicente e, em estado de abandono, a Aldeia mais tarde, por insistência dos moradores, foi se tornando um povoado de pescadores. Ora como Freguesia, ora como Bairro, até como Vila sem nunca ter predicado para isso, o abandono foi total, mas nos mapas seiscentistas e até o Século passado, nota-se o símbolo representativo da velha igreja de Peruibe. Em 1852, recebeu sua primeira "Cadeira Educacional", para o sexo masculino e em 1871, para o sexo feminino, sua população sempre foi maior do que a de Itanhaém porém o censo, somente informava o total da população entre os municípios vizinhos, que pertenciam ao município de Itanhaém.
No ano de 1914, vem a Estrada de Ferro e com ela os primeiros imigrantes. Na década de 50, o Povoado vê aumentar a atividade imobiliária, passando a receber novos incentivadores no comércio. Num trabalho incansável do então Vereador de Itanhaém, Dr. Geraldo Russomano, provoca a realização de um plebiscito, para se definir sobre o processo de emancipação definitiva de Peruibe, libertando seu passado. E foi assim que em 18 de fevereiro de 1959, a Aldeia que se tornou Povoado foi levada à categoria de Município e no dia 1§ de janeiro de 1960, teve seu assentamento. Em 22 de Junho de 1974, através de Lei Estadual, Peruibe passa a ser reconhecida como Estância Balneária, dadas às suas peculiaridades naturais. Atualmente, Peruibe encontra-se em desenvolvimento bastante organizado, pois seu Plano Diretor e Código de Obras, são dos mais bem elaborados da região, o que tem Ihe garantido excelente resultado no processo de urbanização.
É dessa forma que Peruibe está integrada ao Estado, inclusive como uma das cidades que mais se desenvolvem no Pais. Hoje, através de Convênio firmado com o apoio do CONDEPHAAT, entre Peruibe e a Universidade de São Paulo/Museu de Arqueologia e Etnologia - USP/MAE, esta sendo realizada uma pesquisa arqueológica, que já encontra-se em fase final. O Sítio Arqueológico "Ruínas do Abarebebe", que é Tombado pelo CONDEPHAAT e IBPC, assim como pelo Município, através da sua Lei Orgânica Municipal, vem provar o cuidado e o carinho que alguns mecenas vem lutando para preservar o berço dos primeiros brasileiros e a glória suprema dos Jesuítas em nossa querida e eterna Tapiarama. Assim é que relatamos um princípio da história de Peruibe, tudo conforme consultas a documentos que registram os fatos havidos nos tempos do Descobrimento do Brasil.
Peruíbe contada pelos Índios.
Diz a lenda que na tribo dos Tupiniquins havia um grande cacique chamado Peroibe. Sua valentia era conhecida e a sua terra era respeitada por todas as tribos ao redor. Um dia, quando Peroibe caçava com seus guerreiros, ao perseguirem um veado chegaram numa fonte de águas cristalinas. Como estavam cansados, em decorrência do esforço da caça, beberam a água do local e, de repente, o cansaço sumiu e o vigor se estabeleceu novamente nos corpos dos guerreiros. Retornaram para a aldeia, contando para a tribo a descoberta da fonte de água milagrosa. Foram as mulheres as que mais se serviram das águas da fonte, que as mantinham jovens e belas. Elas já eram famosas pela pele macia e sedosa, em conseqüência do uso da lama negra que espalhavam no corpo. Mas a descoberta da fonte fez com que as moças de outras tribos sonhassem com o uso da lama e da água milagrosa. Juréia, filha única do cacique Pogoça, da tribo dos Carijós da região de Igua, soube da descoberta e, ao pegar o caminho da praia de areia fina, chegou na região dos Tupiniquins, alcançou a fonte e mergulhou em suas águas. O cansaço sumiu e o corpo de Juréia vibrou ao sentir uma corrente de energia.
Peroibe, que estava descansando na clareira a poucos metros da fonte, ouviu o barulho das águas e virou-se lentamente para a fonte. Viu o rosto e o corpo de Juréia emergir das águas e, como que enfeitiçado, ficou imóvel e atônico. Juréia olhou e viu a figura imóvel e extasiada de Peroibe. Pensando tratar-se de um deus saiu da água e desapareceu pela trilha nas matas. Peroibe imóvel, estava confuso sem saber se a imagem que via era real ou fantasia e ligeiro entrou na mata à procura de Juréia. Pogoça sentiu a falta da filha que há dias não dava sinal de vida. Quando ela apareceu quis saber onde teria ido. Sabendo da verdade, enfureceu-se e, com a ajuda dos pajés, enclausurou Juréia na caverna da Itabirapuã (pedra em pé redonda), para que ela pudesse ser vigiada. A porta de pedra fechou-se para sempre, por medo de que o deus que a filha havia visto, tentasse roubá-la.Peroibe em vão vasculhou todas as matas. Cansado e esgotado, entrou em tristeza profunda, negando-se a comer e a beber a água da fonte que os pajés lhe traziam.Os pajés reuniram-se em conselho, resolvendo evocar o deus sol para pedir ajuda. Este, atendendo ao pedido, transformou Peroibe em uma rocha, para que o deus tempo não o transformasse, até que sua amada voltasse novamente.Juréia, enclausurada, chorava e evocava a deusa lua, sua protetora, para que a ajudasse a reencontrar seu amado deus.
Esta entristeceu-se e, cheia de compaixão, transformou-a em uma bola de fogo. Segundo a lenda em algumas noites Juréia sai de sua prisão, percorrendo os sambaquis em busca do seu amado. No dia em que o encontrar petrificado, o despertará do sono eterno com seu calor, então a porta do Pogoçá se abrirá, libertando-a para os dois se unirem. Nesse dia renascerá a raça perdida dos bravos Tupiniquins.
A natureza no quintal da cidade.
A Estação Ecológica Juréia Itatins foi instituída em 1986 após um longo processo de mobilização da opinião pública em favor de sua preservação. Por três décadas, foi objeto de instrumentos legais que atendiam aos mais variados interesses, mas nem sempre aos de proteção ambiental. O Decreto Estadual número 31.650, de 8 de abril de 1958 instituiu a Reserva Estadual dos Itatins, numa área de 12.058 hectares de terras declaradas devolutas na vertente atlântica da área montanhosa da Serra do Itatins, permitindo a preservação da Mata Atlântica nessa área. Em muitas áreas próximas, no litoral Sul de São Paulo, boa parte dessa vegetação original foi destruída, pois não estavam em locais protegidos.A região da Serra da Juréia é um dos pontos, senão o ponto mais preservado do litoral paulista. Devido ao alto grau de preservação em que se encontra, esta região possui 2/3 dos últimos 5% de cobertura vegetal primitiva que ainda resta no Estado de São Paulo, concentrando quase 40% de vegetação primitiva da área de todas as unidades de conservação do Estado.Protegida pela Serra dos Itatins há uma grande planície aluvial onde, em vários locais afloram morros, sendo a Juréia o mais elevado deles.
A dificuldade de acesso garantiu sua preservação. Este conjunto de ecossistemas, que permanece praticamente intocado ao longo dos 50Km de litoral, mantém ainda todos os animais silvestres característicos e, se apresenta como uma beleza indescritível. Vários anos depois, a área do Maciço da serra foi doada à Secretaria do Meio Ambiente por um empreendimento imobiliário, que pretendia implantar um loteamento ecológico, de alto padrão, às margens do Rio Verde. Isso levou pessoas a se empenharem na preservação do Maciço da Juréia. Em 12 de dezembro de 1977, através da Resolução número 11 do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) da Secretaria de Cultura do Estado, declarou-se o tombamento do Maciço da Juréia, registrado como área cultural de interesse cênico e científico, e também o Rio Verde, da fonte ao estuário, permitindo assim a preservação dos manguezais a ele associados. O empreendimento imobiliário foi cancelado, uma vez que a Empresa Nuclebrás Brasileira S/A deciciu construir na região as usinas nucleares Iguape 4 e 5, decretando ainda, que os entornos de usinas nucleares passariam a ser Estações Ecológicas. Em 4 de junho de 1980, diante da ameaça de degradação ambiental que se avizinhava, a EEJI foi declarada de utilidade pública através do Decreto Federal n° 84.771, para a construção das Usinas, numa área de 23.600 hectares, incluindo todo o Maciço da Juréia. Nessa época, a Nuclebrás já estava realizando na área pesquisas, melhorando as estradas, realizando terraplanagens, fazendo pontes e colocando uma balsa no Rio Una. Após alguns anos, a Nuclebrás desistiu de gerar energia nuclear na linha da costa do Estado de São Paulo e, conseqüentemente, não levou adiante a desapropriação da terra. Finalmente, em 20 de janeiro de 1986, através do Decreto n° 24.646, o Governo do Estado estabeleceu definitivamente a EEJI, com cerca de 79.270 hectares. Em seguida, editou a Lei n° 5.649 de 28 de abril de 1987, ratificando a criação da Estação. A área de preservação ambiental circundante à estação abrange nessa região toda a bacia hidrográfica do Rio Una do Prelado.. Na EEJI habitam vários caiçaras, que ainda preservam sua cultura, formas de produção e subsistência, com um conhecimento muito apurado da natureza.Sua densidade populacional é muito baixa e por isso sua presença não chega a interferir de forma destrutiva na natureza.
A ocupação humana na área remonta ao século XVIII, inicialmente por populações negras, indígenas e descendentes de europeus. No período de colonização, na busca por ouro, os portugueses usaram a Trilha do Imperador, que corre até hoje através da região conectando São Vicente e a Vila de Cananéia. Mais tarde, a mesma trilha recebeu postes telegráficos, que eram usados para transmitir mensagens em Código Morse na época da Guerra do Paraguai, e que ficou conhecida como a Trilha do Telégrafo. Na linguagem tupi-guarani, Juréia significa ponto saliente (promontório) e Itatins, nariz de pedra (saliência rochosa).
São desenvolvidas muitas pesquisas científicas na EEJI desde 1981, principalmente pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Apesar de ter sua criação amparada por Lei desde 1986, e com núcleo de atividades de pesquisa funcionando, a conservação integral da Estação Ecológica da Juréia ainda não está totalmente assegurada, pois a maior parte das terras que deveriam ser desapropriadas não tiveram sua situação fundiária regularizada. Além disso, há dificuldades em se levantar fundos para o pagamento dessas desapropriações.
Imagens de Peruíbe.
Diversidade biológica da cidade.
A Mata Atlântica abriga em seus domínios uma diversidade natural muito importante. Seus campos e matas de altitude, mangues e restingas abrigam uma variedade de animais que a transforma num dos ecossistemas de maior biodiversidade do planeta, e também num dos mais frágeis. Este patrimônio deve ser preservado a todo custo, principalmente com uma maior conscientização dos seus inúmeros visitantes, afinal cada detalhe da mata está intimamente ligado à vida desse conjunto natural.
Muitas de suas espécies são endêmicas. Dos mamíferos que vivem na floresta, 39% somente são encontrados nessa região. O mesmo se dá com a maioria das borboletas, répteis, anfíbios, primatas e aves. Graças ao desmatamento acelerado que a Mata Atlântica sofre desde o século XVI, muitas espécies estão ameaçadas de extinção. Outras já foram dizimadas com a perda de seu habitat, antes mesmo de chegarem a ser conhecidas pela civilização. Hoje estão catalogadas cerca de 400 espécies de aves, 183 de anfíbios, 146 de répteis, e 131 de mamíferos. Apesar dessa rica variedade, é bastante difícil conseguir encontrar, observar, ou fotografar qualquer espécie durante um passeio pela mata. Mas nem por isso, esse emaranhado de árvores, trepadeiras, orquídeas, samambaias e banhados deixa de ser um paraíso para os atentos observadores de aves e peixes raros como o bagre cego, Pimelodella kronei, exclusivo da águas do escuro ambiente das cavernas. Em suas regiões mais altas, que ultrapassam os 1.000 metros, encontram-se os campos de altitude, regiões campestres de vegetação rasteira, onde vivem aves como o quete, Poospiza lateralis, e o tibirro do campo. Entre os 900 e 1.500 metros, onde a neblina característica mantém elevado o nível de umidade, estão as Matas de Altitude, ou Floresta Nebulosa, o habitat de migração para aves como o beija-flor-preto-e-branco, Melanothrochilus fuscus, e a saíra-lenço, Tangara cyanocephala, e dos residentes sanhaço-frade, Stephanophorus diadematus, e o estalinho, Phylloscartes dificilis. E, ainda, o sagüi-da-serra-escuro, Callithrix aurita, e a perereca, Brachycephalus nodortega.
A Floresta de Encosta, abaixo de 900 e até 50 metros de altitude, onde a cobertura vegetal é bastante densa, com árvores ultrapassando os 30 metros de altura, o deslocamento é bastante difícil, e a maior ocorrência é de mamíferos com hábitos arborícolas. Aí destacam-se o grupo de primatas, com 20 espécies. O mais famoso deles é o monocarvoeiro, Brachyteles arachnoides, o maior primata das Américas. Sua população já chegou a 400 mil, mas hoje não passam de 400. Dividindo o chão úmido dessa mata, encontramos mamíferos como a onça pintada, Panthera onça, a onça parda, Puma concolor, a jaguatirica, Leopardus pardalis, que dependem da Mata Atlântica para sua sobrevivência. E ainda, antas, tamanduás, porcos-do-mato, catinguelê, gambá-de-orelha-preta, cutias, guaxinins, uma infinidade de cobras, jabutis, lagartos e muito mais.
Descendo em direção às planícies fluvio-marinhas e nos depósitos de sopé de encosta, entre figueiras, guapuruvus, caixetais, registra-se a presença de aves endêmicas como o chocó, Carponis melanocephalus, o jaó-do-litoral, Crypturelus noctivagus, e o mico-leão-de-cara-preta, Leontopithecus caissara, um primata seriamente ameaçado de extinção. A floresta de restinga e as encostas, freqüentemente inundadas na época das chuvas, é o ambiente propício para peixes e anfíbios, muitos deles endêmicos. E, por fim, os manguezais representam a base da fertilidade das águas costeiras. Devido à alta concentração de matéria orgânica nessas águas, trata-se do fornecedor de energia ao conjunto de seres vivos que compõem essa complexa cadeia alimentar. Ali acontece a desova de peixes, crustáceos e moluscos. A população residente de animais é restrita, representada por caranguejos e moluscos. As garças, gaivotas, mergulhões e guaxinins também são assíduos frequentadores dos mangues.
Por ar, terra ou mar